Birka é uma região nórdica, hoje parte da Suécia, onde aconteciam importantes transações comerciais na Era Viking. Muitos anos atrás, cerca de 1880, arqueólogos encontraram nessa região um túmulo com restos mortais de um grande guerreiro, que foi considerado 'um dos mais emblemáticos' já encontrados.Birka Warrior , como foi chamado, foi enterrado junto com uma série de objetos: uma espada, um machado, uma lança, uma faca, flechas, escudos e os restos mortais de dois cavalos.

Birka Warrior

<h2 data-selectable-paragraph="">Uma série com 5 artigos sobre futuros mais femininos</h2><figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*Qgc2AH0HXyZtpI2fsRHBYw" width="692" height="461"><figcaption dir="auto">Unsplash | @szvmanski</figcaption></figure><h2 data-selectable-paragraph="">Birka Warrior</h2>Birka é uma região nórdica, hoje parte da Suécia, onde aconteciam importantes transações comerciais na Era Viking. Muitos anos atrás, cerca de 1880, arqueólogos encontraram nessa região um túmulo com restos mortais de um grande guerreiro, que foi considerado 'um dos mais emblemáticos' já encontrados.Birka Warrior, como foi chamado, foi enterrado junto com uma série de objetos: uma espada, um machado, uma lança, uma faca, flechas, escudos e os restos mortais de dois cavalos.Todos os estudos publicados desde a descoberta do túmulo afirmavam que tratava-se de um guerreiro homem. As armas e a qualidade do equipamento sugeriam que a pessoa era um guerreiro profissional, provavelmente um arqueiro. Claramente tratava-se de um guerreiro de grande importância e, por definição, um homem.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*nNUuG_9ycYpQh48N02fzpw" width="645" height="436"><figcaption dir="auto">Reprodução do túmulo de Birka Warrior</figcaption></figure>Em 2017, um novo estudo foi publicado. Desta vez, um grupo liderado pela arqueóloga Charlotte Hedenstierna-Jonson, provou que a pélvis do esqueleto encontrado era feminino e, portanto, Birka Warrior era uma grande guerreira mulher.A publicação desencadeou discussões de sexo, gênero e identidade atribuídas aos guerreiros vikings, além de discussões sobre viéses da mesma natureza entre os pesquisadores. Isso porque, apesar das análises de DNA, a resistência em torno do assunto foi reveladora: “Os ossos podem ter sido misturados”, “Pode haver outras razões pelas quais um corpo feminino foi enterrado com esses itens”. Parecia impensável que uma guerreira mulher pudesse ocupar um lugar de tamanho destaque.Mais de cem anos e uma equipe composta (e liderada) por mulheres foram necessárias para que os estudos da sociedade viking ganhassem outras perspectivas. Qual é o impacto de descobertas como essa na construção de sociedade que vivemos hoje? O que teria acontecido se soubéssemos desde sempre que em antigas civilizações — para além dos vikings — homens e mulheres dividiam papéis de comando e liderança? Que outras descobertas e criações têm o mesmo tipo de viés, e seguem reforçando um mundo que não deveria mais existir?<h2 data-selectable-paragraph="">'Man the hunter'</h2>'Man the hunter' foi um simpósio de 1966, organizado por Richard Lee e Irven Devore, que resultou em um livro de mesmo nome. No encontro, mais de setenta e cinco antropólogos sociais de todo o mundo se reuniram para debater a centralidade da caça para a evolução e o desenvolvimento humano. O consenso foi que a biologia, a psicologia e os costumes que nos separam dos macacos — tudo isso devemos aos caçadores do passado.No entanto, essa teoria não considera o papel feminino durante o período. Porque, como o livro deixou claro, a caça era uma atividade masculina. Segundo eles, o intelecto, interesses, emoções e vida social básica, são todos produtos evolutivos da adaptação do homem à caça.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*Lj95jXggsjHnu7rmM7fsO" width="378" height="276"></figure>Em 1975, Sally Slocum desafiou as teorias de ‘Man the hunter’ ao publicar um ensaio chamado 'Woman the gatherer: male bias in antrophology'. A base do ensaio de Sally foi justamente questionar a centralidade do homem caçador na evolução da humanidade. 'O que as mulheres estavam fazendo enquanto os homens estavam caçando? Que tal, coleta, desmame, cuidado de crianças durante longos períodos de dependência infantil, todos os quais também exigiriam cooperação?'Segundo um artigo citado em 2016 pelo jornal <a href="https://www.independent.co.uk/news/science/human-evolution-violence-instinct-to-kill-murder-each-other-a7335491.html" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">The Independent</a>, os humanos evoluíram para serem seis vezes mais mortais para sua própria espécie do que o mamífero médio, e que a violência entre humanos é predominantemente masculina. Uma análise de trinta anos de assassinato na Suécia descobriu também que nove em cada dez assassinatos são cometidos por homens . Isso vale para estatísticas de outros países, incluindo Austrália, Reino Unido e EUA. E uma pesquisa de homicídios da ONU de 2013 descobriu que 96% das pessoas que cometem homicídio em todo o mundo são do sexo masculino.Dados como esses nos fazem refletir sobre o impacto de teorias como 'Man the hunter', que dão tamanha importância à agressão, têm no desenvolvimento da humanidade. Será que os seres humanos foram impactados ao (re)conhecerem sua própria evolução a partir da violência? Que outras teorias têm o mesmo tipo de viés e seguem reforçando um olhar parcial do mundo?<h2 data-selectable-paragraph="">Futuros Mais Femininos</h2>Ambos casos descritos acima são citados no livro <a href="https://www.amazon.com.br/Invisible-Women-Data-World-Designed/dp/1419735217/ref=asc_df_1419735217/?tag=googleshopp00-20&amp;linkCode=df0&amp;hvadid=379715916213&amp;hvpos=&amp;hvnetw=g&amp;hvrand=9426245328495641523&amp;hvpone=&amp;hvptwo=&amp;hvqmt=&amp;hvdev=c&amp;hvdvcmdl=&amp;hvlocint=&amp;hvlocphy=9102397&amp;hvtargid=pla-917775786220&amp;psc=1" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">‘Invisible Women: exposing data bias in a world designed for men’</a>, da autora Carolina Criado Perez. O livro propõe reflexões sobre as lacunas de dados de gênero como causa e consequência do tipo de (não)pensamento que concebe a humanidade como quase exclusivamente masculina.Em certo ponto, a autora tensiona o próprio termo utilizado para definir a humanidade. A palavra ‘homem’, por exemplo, é usada como sinônimo da espécie humana em geral. Mas, segundo ela, quando você diz homem, você não inclui mulheres também, mesmo que esta seja a norma.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*G7I_zw9vw7Os6afhHlKsvw" width="692" height="389"><figcaption dir="auto">Unsplash | @diegosmarines</figcaption></figure>Vários estudos — em diferentes idiomas — descobriram que o que é chamado de masculino genérico (usando palavras como ‘ele' de uma maneira neutra em termos de gênero) não é de fato lido genericamente. Pelo contrário, é lido predominantemente como masculino. Mulheres, por exemplo, são menos propensas a se candidatar, e menos propensas a ter um bom desempenho em entrevistas, em vagas de emprego que são anunciadas usando o masculino genérico.<BLOCKQUOTE>‘A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si mesma, mas em relação a ele; ela não é considerada um ser autônomo. (…) Ele é o Sujeito, ele é o Absoluto — ela é o Outro.’ (Simone de Beauvoir, socióloga e feminista)</BLOCKQUOTE>Sempre que vejo casos como 'Birka Warrior' e 'Man the hunter' (que estão longe de serem exceção) me questiono sobre o papel de profissionais e lideranças femininas em todo o tipo de organização.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*BSfI0_jUVSpDPr4auuIFbw" width="692" height="388"><figcaption dir="auto">Unsplash | @elliapellegrine</figcaption></figure>Profissionais de pesquisa, antropologia, arqueologia, história etc — desempenharam profunda influência na construção de quem (e como) somos hoje. Mas será que o que estamos fazendo hoje, conscientes ou não, também não está construindo futuros?Em 2015, Rose Eveleth, escreveu um artigo para o The Atlantic chamado '<a href="https://www.theatlantic.com/technology/archive/2015/07/futurism-sexism-men/400097/" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">Why Aren't There More Women Futurists?</a>'. O material evidencia o baixíssimo número de mulheres no setor e, mais importante, como os futuros imaginados dependem em grande parte da pessoa (ou das pessoas) que os estão imaginando.O equilíbrio de gênero é importante pelas mesmas razões pelas quais a diversidade impulsiona o crescimento dos mercados. Quando apenas um tipo de pessoa está engajada em fazer perguntas-chave sobre um determinado ponto — pensando futuros ou não — ela perde toda uma perspectiva para identificar e resolver problemas.Diante disso, vale citar a Apple, que em 2014 fez o lançamento do Health — um aplicativo para o iPhone que conseguia rastrear peso, passos, glicose no sangue e até mesmo (caso você possuísse um inalador) sua frequência de uso. Segundo o executivo da Apple Software, Craig Federighi, 'Com o Health você pode monitorar todas as métricas que mais lhe interessam'. Mas apesar de todas as funções disponíveis no app, a Apple esqueceu de incluir o monitoramento do ciclo menstrual das mulheres. Algo que só foi incluído no serviço quase um ano depois. A <a href="https://www.theverge.com/2014/9/25/6844021/apple-promised-an-expansive-health-app-so-why-cant-i-track" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">The Verge</a>, escreveu um artigo apontando a falta de diversidade nas equipes da Apple na época, composta em sua maioria por homens brancos, como um dos fatores responsáveis pelo 'esquecimento'.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*_wTbz12gPzWHMdGP8ASgRw" width="692" height="519"><figcaption dir="auto">Unsplash | @alicePollet</figcaption></figure><a href="https://www.madelineashby.com/" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">Madeline Ashby</a>, autora e futurista, também aponta a necessidade de ter mais mulheres pensando futuros. ‘Talvez seja por isso que os futuristas muitas vezes não falam sobre algumas das questões e problemas que muitas pessoas enfrentam todos os dias — assédio, cuidados infantis, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, direitos à água, imigração, brutalidade policial.’ Segundo Ashby, quando você perde as vozes das mulheres, você perde os problemas com os quais elas precisam lidar.Diante de tudo isso, reforço a necessidade de construirmos futuros mais inclusivos e femininos e, para isso, trabalhar ativamente para desafiar o status quo e construir novas realidades.<h2 data-selectable-paragraph="">How To</h2>Mas reconhecer e ultrapassar as disparidades de gênero não é algo fácil, automático ou linear. Mesmo para as mulheres. Durante séculos nossas memórias e experiências foram ligadas a realidades masculinas, brancas, heterossexuais e ocidentais. E por isso, para construção de futuros mais plurais — e neste artigo mais femininos — é fundamental explorar essa jornada com intenção, tornando o processo consciente e replicável, assim como sugere o diagrama autoral a seguir.<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*QffEzrdo3sxmENgB17yHO" width="692" height="398"><figcaption dir="auto">‘How to Female Futures’ | Aerolito</figcaption></figure>Status Quo | Situações Naturalizadas Existem milhões de situações, ideias e comportamentos naturalizados por nós e pela sociedade todos os dias. Afinal, o que é natural? Quantas vezes achamos natural ser a única mulher em uma reunião corporativa? Quantas vezes já achamos natural rir de uma piada machista? Ou deixar pra lá os olhares de assédio no dia em que escolhemos uma roupa mais justa?Reese Witherspoon fez um poderoso discurso no Prêmio Glamour em 2015, ao evidenciar um comportamento naturalizado pelos filmes de Hollywood. Nas cenas, mulheres em momentos de crise aparecem confusas ou indefesas, perguntando aos homens próximos “o que fazer agora?’, como um pedido de ajuda e socorro.<figcaption>'What do we do now?'</figcaption>Estranhar &amp; Desnaturalizar Até o momento em que nāo achamos nada disso comum. Até o momento em que tudo isso nos incomoda. Não é natural ser interrompida em reuniões. Não é natural ver tão poucas mulheres em posições de liderança. E certamente não é natural mulheres — fortes, inteligentes — pedirem ajuda aos homens para resolverem seus problemas e/ou desafios, como indefesas donzelas do novo milênio.Tomar Consciência E no momento que tomamos consciência dessas situações, que isso entra em nosso fluxo mental e criativo, começamos a olhar para as situações com questionamento. O que antes era uma situação corriqueira, parece não caber mais em nossa realidade.Esperança Existem muitas formas de enxergar o mundo e os desafios que encontramos pelo caminho. E é comum escutarmos que a melhor lente para este exercício é o otimismo. Esta, por definição, acredita que no futuro as coisas vão funcionar melhor. A esperança, por outro lado, é aplicável mesmo quando o mundo não é perfeito. Ela não nega sofrimento e dor.Segundo o artigo '<a href="https://aeon.co/essays/true-hope-takes-a-hard-look-at-reality-then-makes-a-plan" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">Hope is not optimism</a>', a esperança é uma percepção. E ao contrário da maioria das percepções, ela tem a capacidade de criar realidades, pois ela é uma percepção de algo que ainda não existe, mas do que é possível.<BLOCKQUOTE>'Quando as pessoas acreditam que um objetivo com o qual se preocupam é possível alcançar, é mais provável que tomem medidas para que isso aconteça.'</BLOCKQUOTE>Ou seja, quando as pessoas têm esperança, seus desejos e objetivos têm mais chance de se tornar realidade. Que tal usarmos a lente da esperança para pensar futuros mais femininos? Futuros onde são possíveis salários iguais, oportunidades reais, produtos e serviços adequados e o que mais quisermos criar?<figure><img alt="" src="https://miro.medium.com/max/500/1*fKlsrO3d3LcM2upnnVMzbg" width="692" height="461"><figcaption dir="auto">Unsplash | @haleyphotographer</figcaption></figure>(Re) Imaginar A criação de novas possibilidades começa pelo exercício imaginativo. Recentemente publicamos um artigo sobre a imaginação como poderosa ferramenta de inovação, que você pode acessar <a href="https://medium.com/aerolito/taking-imagination-seriously-3bad2ba8e416" rel="noopener" dir="ltr">aqui.</a>A imaginação nos permite trazer a mente aquilo que pode ser, e não apenas aquilo que é. Podemos criar, explorar, expandir, e com intenção, imaginar futuros mais femininos.<BLOCKQUOTE>'O futurismo que envolve casas de vidro e homens de 400 anos não me interessa. Quando penso no tipo de futuro que quero construir, penso em algo suave, humano, muito erótico. E sinto que muito que identificamos como futurista é brilhante, com capas de ficção científica pintadas em cromo. São estéreis. Quem se importa com o seu jetpack? Como a tecnologia nos permite continuar amando uns aos outros?' (Monica Byrne, autora de ficção científica)</BLOCKQUOTE>Agir &amp; Transformar Futuros Reese Witherspoon não apenas imaginou uma nova possibilidade. Ela agiu. Ao fundar a <a href="https://www.hollywoodinsider.com/pacific-standard-reese-witherspoon-female/" rel="noopener ugc nofollow" dir="ltr">Pacific Standard</a>, em Hollywood, ela criou uma forma de tornar acessível papéis femininos, com destaque, complexidade e retorno financeiro.Mais mulheres pensando futuros está longe de ser algo puramente mental e contemplativo. Pelo contrário. A criação de futuros mais femininos depende de ação. Depende de nossas decisões enquanto profissionais e lideranças, em todos os mercados, e em todas as posições.<BLOCKQUOTE>‘As melhores sementes de mudança são aquelas que não se enquadram no sistema existente (…) E as mulheres foram sementes de mudança ao longo da história. Elas adquiriram e mantiveram viva a capacidade de construir visões.' (Eleora Masini, socióloga e professora da área de future studies em Roma)</BLOCKQUOTE>Nos próximos artigos vamos explorar a importância de mais mulheres pensando (e criando) futuros em diversos mercados, como Sexo, Finanças, Saúde e Mobilidade.Este material foi fortemente inspirado pelos estudos realizados pela Aerolito em 2022, em função da parceira com a Liga Feminina de Inovação da Ambev, a 'InnoWomen'.Por: Fernanda Prestefelippe, e . (e apoio incondicional de Julia Caleffi e )

Birka é uma região nórdica, hoje parte da Suécia, onde aconteciam importantes transações comerciais na Era Viking. Muitos anos atrás, cerca de 1880, arqueólogos encontraram nessa região um túmulo com…

Uma série com 5 artigos sobre futuros mais femininos

Birka é uma região nórdica, hoje parte da Suécia, onde aconteciam importantes transações comerciais na Era Viking. Muitos anos atrás, cerca de 1880, arqueólogos encontraram nessa região um túmulo com restos mortais de um grande guerreiro, que foi considerado 'um dos mais emblemáticos' já encontrados.

Birka Warrior , como foi chamado, foi enterrado junto com uma série de objetos: uma espada, um machado, uma lança, uma faca, flechas, escudos e os restos mortais de dois cavalos.

Todos os estudos publicados desde a descoberta do túmulo afirmavam que tratava-se de um guerreirohomem . As armas e a qualidade do equipamento sugeriam que a pessoa era um guerreiro profissional, provavelmente um arqueiro. Claramente tratava-se de um guerreiro de grande importância e, por definição, um homem.

Em 2017, um novo estudo foi publicado. Desta vez, um grupo liderado pela arqueóloga Charlotte Hedenstierna-Jonson , provou que a pélvis do esqueleto encontrado era feminino e, portanto, Birka Warrior era uma grande guerreiramulher .

A publicação desencadeou discussões de sexo, gênero e identidade atribuídas aos guerreiros vikings, além de discussões sobre viéses da mesma natureza entre os pesquisadores. Isso porque, apesar das análises de DNA, a resistência em torno do assunto foi reveladora: “Os ossos podem ter sido misturados ”, “Pode haver outras razões pelas quais um corpo feminino foi enterrado com esses itens ”. Parecia impensável que uma guerreira mulher pudesse ocupar um lugar de tamanho destaque.

Mais de cem anos e uma equipe composta (e liderada) por mulheres foram necessárias para que os estudos da sociedade viking ganhassem outras perspectivas. Qual é o impacto de descobertas como essa na construção de sociedade que vivemos hoje? O que teria acontecido se soubéssemos desde sempre que em antigas civilizações — para além dos vikings — homens e mulheres dividiam papéis de comando e liderança? Que outras descobertas e criações têm o mesmo tipo de viés, e seguem reforçando um mundo que não deveria mais existir?

'Man the hunter' foi um simpósio de 1966, organizado por Richard Lee e Irven Devore, que resultou em um livro de mesmo nome. No encontro, mais de setenta e cinco antropólogos sociais de todo o mundo se reuniram para debater a centralidade da caça para a evolução e o desenvolvimento humano . O consenso foi que a biologia, a psicologia e os costumes que nos separam dos macacos — tudo isso devemos aos caçadores do passado.

No entanto, essa teoria não considera o papel feminino durante o período. Porque, como o livro deixou claro, a caça era uma atividade masculina. Segundo eles, o intelecto, interesses, emoções e vida social básica, são todos produtos evolutivos da adaptação do homem à caça.

Em 1975, Sally Slocum desafiou as teorias de ‘Man the hunter’ ao publicar um ensaio chamado 'Woman the gatherer: male bias in antrophology' . A base do ensaio de Sally foi justamente questionar a centralidade do homem caçador na evolução da humanidade. 'O que as mulheres estavam fazendo enquanto os homens estavam caçando? Que tal, coleta, desmame, cuidado de crianças durante longos períodos de dependência infantil, todos os quais também exigiriam cooperação? '

Segundo um artigo citado em 2016 pelo jornal <a href="https://www.independent.co.uk/news/science/human-evolution-violence-instinct-to-kill-murder-each-other-a7335491.html">The Independent </a>, os humanos evoluíram para serem seis vezes mais mortais para sua própria espécie do que o mamífero médio, e que a violência entre humanos é predominantemente masculina. Uma análise de trinta anos de assassinato na Suécia descobriu também que nove em cada dez assassinatos são cometidos por homens . Isso vale para estatísticas de outros países, incluindo Austrália, Reino Unido e EUA. E uma pesquisa de homicídios da ONU de 2013 descobriu que 96% das pessoas que cometem homicídio em todo o mundo são do sexo masculino.

Dados como esses nos fazem refletir sobre o impacto de teorias como 'Man the hunter', que dão tamanha importância à agressão, têm no desenvolvimento da humanidade. Será que os seres humanos foram impactados ao (re)conhecerem sua própria evolução a partir da violência? Que outras teorias têm o mesmo tipo de viés e seguem reforçando um olhar parcial do mundo?

Ambos casos descritos acima são citados no livro <a href="https://www.amazon.com.br/Invisible-Women-Data-World-Designed/dp/1419735217/ref=asc_df_1419735217/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379715916213&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=9426245328495641523&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=9102397&hvtargid=pla-917775786220&psc=1">‘Invisible Women: exposing data bias in a world designed for men’ </a>, da autora Carolina Criado Perez. O livro propõe reflexões sobre as lacunas de dados de gênero como causa e consequência do tipo de (não)pensamento que concebe a humanidade como quase exclusivamente masculina.

Em certo ponto, a autora tensiona o próprio termo utilizado para definir a humanidade. A palavra ‘homem ’, por exemplo, é usada como sinônimo da espécie humana em geral. Mas, segundo ela, quando você diz homem, você não inclui mulheres também, mesmo que esta seja a norma.

Vários estudos — em diferentes idiomas — descobriram que o que é chamado de masculino genérico (usando palavras como ‘ele' de uma maneira neutra em termos de gênero) não é de fato lido genericamente. Pelo contrário, é lido predominantemente como masculino. Mulheres, por exemplo, são menos propensas a se candidatar, e menos propensas a ter um bom desempenho em entrevistas, em vagas de emprego que são anunciadas usando o masculino genérico.

‘A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si mesma, mas em relação a ele; ela não é considerada um ser autônomo. (…) Ele é o Sujeito, ele é o Absoluto — ela é o Outro.’ ( Simone de Beauvoir , socióloga e feminista)

Sempre que vejo casos como 'Birka Warrior ' e 'Man the hunter ' (que estão longe de serem exceção) me questiono sobre o papel de profissionais e lideranças femininas em todo o tipo de organização.

Profissionais de pesquisa, antropologia, arqueologia, história etc — desempenharam profunda influência na construção de quem (e como) somos hoje. Mas será que o que estamos fazendo hoje, conscientes ou não, também não está construindo futuros?

Em 2015, Rose Eveleth , escreveu um artigo para o The Atlantic chamado '<a href="https://www.theatlantic.com/technology/archive/2015/07/futurism-sexism-men/400097/">Why Aren't There More Women Futurists? </a>'. O material evidencia o baixíssimo número de mulheres no setor e, mais importante, como os futuros imaginados dependem em grande parte da pessoa (ou das pessoas) que os estão imaginando.

O equilíbrio de gênero é importante pelas mesmas razões pelas quais a diversidade impulsiona o crescimento dos mercados. Quando apenas um tipo de pessoa está engajada em fazer perguntas-chave sobre um determinado ponto — pensando futuros ou não — ela perde toda uma perspectiva para identificar e resolver problemas.

Diante disso, vale citar a Apple, que em 2014 fez o lançamento do Health — um aplicativo para o iPhone que conseguia rastrear peso, passos, glicose no sangue e até mesmo (caso você possuísse um inalador) sua frequência de uso. Segundo o executivo da Apple Software, Craig Federighi, 'Com o Health você pode monitorar todas as métricas que mais lhe interessam '. Mas apesar de todas as funções disponíveis no app, a Apple esqueceu de incluir o monitoramento do ciclo menstrual das mulheres . Algo que só foi incluído no serviço quase um ano depois. A <a href="https://www.theverge.com/2014/9/25/6844021/apple-promised-an-expansive-health-app-so-why-cant-i-track">The Verge </a>, escreveu um artigo apontando a falta de diversidade nas equipes da Apple na época, composta em sua maioria por homens brancos, como um dos fatores responsáveis pelo 'esquecimento'.

<a href="https://www.madelineashby.com/">Madeline Ashby </a>, autora e futurista, também aponta a necessidade de ter mais mulheres pensando futuros. ‘Talvez seja por isso que os futuristas muitas vezes não falam sobre algumas das questões e problemas que muitas pessoas enfrentam todos os dias — assédio, cuidados infantis, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, direitos à água, imigração, brutalidade policial.’ Segundo Ashby, quando você perde as vozes das mulheres, você perde os problemas com os quais elas precisam lidar.

Diante de tudo isso, reforço a necessidade de construirmos futuros mais inclusivos e femininos e, para isso, trabalhar ativamente para desafiar o status quo e construir novas realidades.

Mas reconhecer e ultrapassar as disparidades de gênero não é algo fácil, automático ou linear . Mesmo para as mulheres. Durante séculos nossas memórias e experiências foram ligadas a realidades masculinas, brancas, heterossexuais e ocidentais. E por isso, para construção de futuros mais plurais — e neste artigo mais femininos — é fundamental explorar essa jornada com intenção, tornando o processo consciente e replicável, assim como sugere o diagrama autoral a seguir.

Status Quo | Situações Naturalizadas Existem milhões de situações, ideias e comportamentos naturalizados por nós e pela sociedade todos os dias. Afinal, o que é natural? Quantas vezes achamos natural ser a única mulher em uma reunião corporativa? Quantas vezes já achamos natural rir de uma piada machista? Ou deixar pra lá os olhares de assédio no dia em que escolhemos uma roupa mais justa?

Reese Witherspoon fez um poderoso discurso no Prêmio Glamour em 2015, ao evidenciar um comportamento naturalizado pelos filmes de Hollywood. Nas cenas, mulheres em momentos de crise aparecem confusas ou indefesas, perguntando aos homens próximos “o que fazer agora?’, como um pedido de ajuda e socorro.

Estranhar & Desnaturalizar Até o momento em que nāo achamos nada disso comum. Até o momento em que tudo isso nos incomoda. Não é natural ser interrompida em reuniões. Não é natural ver tão poucas mulheres em posições de liderança. E certamente não é natural mulheres — fortes, inteligentes — pedirem ajuda aos homens para resolverem seus problemas e/ou desafios, como indefesas donzelas do novo milênio.

Tomar Consciência E no momento que tomamos consciência dessas situações, que isso entra em nosso fluxo mental e criativo, começamos a olhar para as situações com questionamento. O que antes era uma situação corriqueira, parece não caber mais em nossa realidade.

Esperança Existem muitas formas de enxergar o mundo e os desafios que encontramos pelo caminho. E é comum escutarmos que a melhor lente para este exercício é o otimismo. Esta, por definição, acredita que no futuro as coisas vão funcionar melhor. A esperança , por outro lado, é aplicável mesmo quando o mundo não é perfeito. Ela não nega sofrimento e dor.

Segundo o artigo '<a href="https://aeon.co/essays/true-hope-takes-a-hard-look-at-reality-then-makes-a-plan">Hope is not optimism </a>', a esperança é uma percepção. E ao contrário da maioria das percepções, ela tem a capacidade de criar realidades, pois ela é uma percepção de algo que ainda não existe, mas do que é possível.

'Quando as pessoas acreditam que um objetivo com o qual se preocupam é possível alcançar, é mais provável que tomem medidas para que isso aconteça.'

Ou seja, quando as pessoas têm esperança, seus desejos e objetivos têm mais chance de se tornar realidade. Que tal usarmos a lente da esperança para pensar futuros mais femininos? Futuros onde são possíveis salários iguais, oportunidades reais, produtos e serviços adequados e o que mais quisermos criar?

(Re) Imaginar A criação de novas possibilidades começa pelo exercício imaginativo. Recentemente publicamos um artigo sobre a imaginação como poderosa ferramenta de inovação, que você pode acessar <a href="https://medium.com/aerolito/taking-imagination-seriously-3bad2ba8e416">aqui. </a>

A imaginação nos permite trazer a mente aquilo que pode ser, e não apenas aquilo que é. Podemos criar, explorar, expandir, e com intenção, imaginar futuros mais femininos.

'O futurismo que envolve casas de vidro e homens de 400 anos não me interessa. Quando penso no tipo de futuro que quero construir, penso em algo suave, humano, muito erótico. E sinto que muito que identificamos como futurista é brilhante, com capas de ficção científica pintadas em cromo. São estéreis. Quem se importa com o seu jetpack? Como a tecnologia nos permite continuar amando uns aos outros?' (Monica Byrne, autora de ficção científica)

Agir & Transformar Futuros Reese Witherspoon não apenas imaginou uma nova possibilidade. Ela agiu. Ao fundar a <a href="https://www.hollywoodinsider.com/pacific-standard-reese-witherspoon-female/">Pacific Standard </a>, em Hollywood, ela criou uma forma de tornar acessível papéis femininos, com destaque, complexidade e retorno financeiro.

Mais mulheres pensando futuros está longe de ser algo puramente mental e contemplativo. Pelo contrário. A criação de futuros mais femininos depende de ação. Depende de nossas decisões enquanto profissionais e lideranças, em todos os mercados, e em todas as posições.

‘As melhores sementes de mudança são aquelas que não se enquadram no sistema existente (…) E as mulheres foram sementes de mudança ao longo da história. Elas adquiriram e mantiveram viva a capacidade de construir visões.' (Eleora Masini , socióloga e professora da área de future studies em Roma)

Nos próximos artigos vamos explorar a importância de mais mulheres pensando (e criando) futuros em diversos mercados, como Sexo, Finanças, Saúde e Mobilidade.

Este material foi fortemente inspirado pelos estudos realizados pela Aerolito em 2022, em função da parceira com a Liga Feminina de Inovação da Ambev, a 'InnoWomen'.

. (e apoio incondicional de Julia Caleffi e

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